quinta-feira, 13 de setembro de 2018

uma noite que me arrancou, num sorriso, uns dentes para fora da minha boca e quase 10 contos de passagem

"eu sofrendo, dormia.", 07/09/17
peguei o ônibus, atrasado

"Boa tarde" disse o trocador enquanto eu lhe entregava
  
           o pouco dinheiro que eu tinha.

  moedas que ao todo davam 3,40 de passagem para ir, 
           3,40 para voltar. 

a passagem do metrô deve ser do mesmo preço. não lembro.

 3,50?

 deve ser mesmo.

         as cadeiras haviam sido trocadas.
         talvez até mesmo o cobrador tenha sido. acho que o vi uma vez.

         no entanto as pessoas continuam as mesmas de sempre.

  
  sobem

  olham umas as outras vagarosamente

  algumas sentam antes da catraca

  outras pagam o cobrador

  pulam a catraca

  passam a catraca 


  CRRRIIIEEC


  olham você ou olham o chão ou olham a janela da traseira do ônibus

  sentam-se o mais longe que podem das outras pessoas e baixam seus olhos

  nas ruas, nas casas, na merda de cachorro estacionada perto de uma lanchonete

  gritam, se calam

  alguém conta que chegava 1h30min. mais cedo no trabalho porque não gosta

  de quem se atrasa. 

  bem... agora você tem 1h30min. extras para odiar os seus que dormem quase

  tranquilos antes de acordarem e trabalharem a mesma quantidade de horário que você.


  o silêncio


  talvez algo romântico da década de 80 esteja tocando. o motorista está puto. os passageiros também.


     no 77 encontrei Antônio e fomos juntos encontrar outros amigos e assistir a apresentação.

   bebemos vinho, conversamos sobre como uma banda por si só consegue ser 

mais divertida do que
  
 com algum diabo de empresário em suas costas. 

      é fácil deixar a grama do vizinho mais verde quando você

 o faz gastar mais água do que o necessário.


     duas garrafas de vinho de 7,00 reais no fígado.
     
     fumaça nos pulmões.

     o andarilho inicia sua apresentação...

    as pessoas sentadas nas pedras, uma perto da outra, conversando
                                                        cantando
                                                        fumando
                                                        amando e escutando.

    sua voz é alta, parece voar e agarrar o vento para mastigar e depois soltá-lo 

                                          com novas melodias, para o mundo.

  o mar acompanha a vibração das cordas e dos dedos ligeiros do músico. 

     as ondas caem uma por cima da outra, disputando brutalmente a areia molhada que assiste o céu, com paciência.


   se não fosse Antônio eu provavelmente estaria escrevendo besteiras nesse notebook de 2012. 
 isso pode está acontecendo agora.


       "Você leu aquilo que aquele cara escreveu? Puta que pariu, que vergonha."

       "Totalmente estúpido, ele mora na minha rua. Alguém deveria cortar os dedos dele."

       "E rápido."

       "Pior."
       "Em quem você vai votar?"

     
  no final tomamos banho no mar e tiramos uma foto e pegamos nosso caixão coletivo de 3,40
                                  para casa.
                                  
                                  famintos às 22h??min.

   tomamos café no terminal da Parangaba que mais parecia tinta guache preta fervida na água. tava até bom.

   apressei-me para pegar o meu.

   ele caminhou até o dele.

         nos separamos um do outro. 
     
       uma noite que me arrancou, num sorriso, uns dentes para fora da minha boca e quase 10 contos de passagem.


                                     e agora uma pessoa no ônibus está tendo uma ideia
                                  
                              de que a matarei na próxima parada...

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