quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Parte I: Uma Breve História de Akiko

"Akiko: Olhos sobre tela"
Acrílica sobre tela.
21/08/18
     Tentarei ser breve ao contar a história de uma personagem que criei não faz muito tempo: Akiko. O que os dentes, os olhos e "Sonhos Destruídos" tem a ver com ela?
     Dividirei em duas partes: A "Origem" e a "Ação". A segunda parte fica para outro dia.
     

Parte I


     Música clássica tocando na sala. Gritos abafados pelo piano. Ruído de osso quebrando. Fumaça de cigarro explorando lentamente o ambiente. Um copo quebrando. Gritos mais altos que a música tornavam a calmaria da noite em uma obra macabra.
     A má conduta de Akiko a fez ser expulsa do colégio onde mal estudava. De qualquer forma tinha notas medianas, entretanto um comportamento estranho para com todos. Colecionava dentes de animais, objetos enferrujados, insetos mortos, moedas e cigarros apagados. As únicas coisas pela qual tinha algum apreço eram as pinturas e a sua mãe - vamos apenas chamá-la de mãe -. Tinha amor também pela cor dos olhos das pessoas. Era fascinada. Algo se passava na cabeça dela quando via os olhos da mãe, mas seu rosto era quase sempre inexpressivo. Ela tinha um sonho que sempre fazia ela acordar num espanto, em quase todas as noites: Sua mãe aparecia no meio do nada e contava a ela algo inaudível, com uma expressão horrível estampada no rosto.
Sonho que atormentava Akiko quase todas as noites.
     Seu pai, um alcoólatra frustrado e quase sem diálogo com a sociedade, senão com as garrafas e os cigarros, já chegou a estuprar a esposa e a assediar a filha na infância. Mantinha conversas com pessoas que não estavam presentes no lugar. Um louco. Akiko e sua mãe foram muitas vezes vítimas de sua fúria incontrolável.
     Uma noite, enquanto Akiko observava a ponta torta de uma faquinha enferrujada, gritos de fúria e de medo implodiram na mente de Akiko. Apoiando-se na parede com as mãos pálidas, ela apressou-se e, ao chegar no local, deparou com os olhos arregalados uma cena horrível e surreal: sua mãe semi-morta com o braço e a perna esquerda, ambos membros separados do corpo, e seu pai mastigando com voracidade a carne do braço, que escorria o sangue ainda quente. O barulho dos dentes sujos de seu pai cheios de sangue e carne roendo o osso do braço e todo aquele vermelho, aquele show macabro, aquela música, sua mãe reduzida a uma boneca de porcelana quebrada... imagens que moldariam friamente a mente de Akiko a partir daquele momento. Os lábios frios de sua mãe moveram-se para Akiko mas nada audível saía, como no sonho. Seu pai parou imediatamente, percebendo uma presença. Respondeu alguém que ele viu com "Sim", e começou a caminhar cambaleando para Akiko, com os olhos cheios de dor e selvageria.
    Ela não tremia. Não chorava. Não demonstrava nada. Tornara-se uma selvagem também. Golpeou-o quatro vezes com a faca e depois chutou-o no estômago, o fazendo escorregar na poça de sangue. Ela montou em cima dele e golpeou sem cessar a testa dele com algo sólido que encontrou por perto, até que seu rosto desfigurasse e seu cérebro despedaçasse e se espalhasse pelo piso. Sentimentos misturados e confusos percorriam Akiko que desmembrava irregularmente o pai. Algum clássico dos anos 50 tocava no toca-discos. Os lábios apertados. Sangue espirrava na sua camisa branca. Cantarolava a música em sincronia com os dentes que eram arrancados da gengiva dos dois cadáveres. Arrancou os olhos sem vida de sua mãe que para ela continha grande valor e deixou que o fogo consumisse a casa inteira.
autorretrato de Akiko em uma lembrança mórbida.

    Com uma carteira de cigarros, alguns trocados, uma máscara Noh na mochila, e 15 anos de idade, deixou seu sofrimento e sua identidade carbonizados para sempre naquela casa. Vagava pelas estradas, atuando em novas vidas com a mente perturbada e satisfazendo os próprios desejos sórdidos com profissionalismo. 
máscara Deigan que costuma usar para esconder-se do mundo.

     Aos 18 anos de idade, carregava 23 assassinatos num diário que mantinha consigo.  Após realizar um crime, descansava por um mês e transportava as lembranças que tinha da última vítima para uma tela. Às vezes produzindo um autorretrato expressando o sentimento empolgante que sentia, e mais ninguém.
     Por onde anda sua mente agora?



      

Nenhum comentário:

Postar um comentário