Alguns escritos semi-mortos e pinturas egoístas à venda. Sinta-se livre para apreciar de verdade as obras - DEVORE mesmo, sem medo de espinho algum.
sábado, 30 de junho de 2018
Madalena, um sorriso no teu rosto valeria mais que 50 centavos em tua bolsa.
A triste ascensão de um anjo sobre lixos de rua, carros luxuosos, canivetes e homens sujos
— Seu filho da p... FILHO DA PUTA! — Rugiu furiosamente Madalena contra seu cliente enquanto quebrava tudo que encontrava naquele quarto de motel barato. — Cadê o dinheiro, seu arrombado? Tá achando que minha foda é de graça? Eu preciso dessa porra, seu merda!
O cliente, um homem gordo e calvo, de olhos profundos e obscuros, arriscou uma risadinha irônica arrastando um ar de arrependimento por ter tentado fugir sem pagar.
— Vá, ria bem muito, viu? 'Féla' da puta... — Madalena pegou de sua bolsa um cigarro e o acendendo puxou despreocupadamente um canivete meio enferrujado, deixando o desgraçado assustado com a situação. — Dê só mais uma risadinha pra tu sentir como é ter uma lâmina entrando na tua garganta, que pra eu ver tua garganta gozar sangue é bem rasinho!
Como quem está apressado para comprar algum bilhete, o velho murmura rezas enquanto procura a carteira jogada pelo chão sujo e rapidamente tira o dinheiro e joga na direção dela. Ela pega e começa a contar, sussurrando os números.
— Pegue logo! Tá tudo aí, todo o dinheiro, tudo o que foi combinado, mas por favor... me deixa sair agora... — Mendigou algum perdão, o velho, com uma voz chorosa e irritante. No entanto, Madalena estava ocupada demais contando a grana e não dera atenção para as palavras sem valor dele.
Ele vestiu-se rapidamente e estava de saída, mas ela o agarrou pelo casaco e disse, apontando o canivete para o olho dele, num tom ameaçador:
— Outras não pensam duas vezes... Mas VOCÊ deveria PENSAR na próxima vez que querer foder sem pagar!... Entendeu, num entendeu? Pois é, agora vá para a puta que te pariu e bem longe daqui. — Estremecendo por causa do canivete aproximando-se e com as palavras que ouviu, o velho balançou a cabeça positivamente e saiu, tentando dar passos longos e rápidos. Madalena se pôs a vestir-se, pegou sua bolsa e ganhou a rua.
A rua era a sua casa.
Ela fazia o que fazia por necessidade financeira, mas sabia que se fosse para fazer dinheiro devia fazer direito. Tinha um rosto doce que expressava uma certa beleza. Os longos cabelos castanhos dourados por causa do sol era o que mais chamava a atenção dos homens. Chamaria mais, se não fosse suas roupas maltrapilhas. Tinha uma boquinha rosada, quase sempre pintada de vermelho, e olhos castanhos e perigosos. Carregava sempre canivetes, enferrujados ou não, na bolsa. Ela possuiu experiência o suficiente nas ruas para saber que cada maldito cliente poderia ser o último.
Madalena preferia rebolar nas calçadas do Dragão do Mar ou nas do Centro. Quando ganhava uma quantia alta, gastava em bebidas, pó, maconha, cigarros, algum alimento, e ela conhecia um cara no Benfica que disponibilizava a casa dele pra usar tudo isso de uma vez só, com uma condição: sexo.
Meses depois, a fama de ser uma das melhores putas da cidade já soprava nos ventos noturnos da cidade. Agora Madalena fodia, todas as noites, com diversos caras. A sua vida noturna se resumia em desfilar vestindo roupas caras, fumando cigarros caros e usando maquiagens caras. Nenhum homem ousaria foder e fugir sem pagar Madalena.
Numa dessas noites, Madalena negociou com um cliente e foram, como de costume dela, para um motel barato. O cliente era um cara magro de cabelo grande. Aparentava ter uns 22 anos de idade. Ele despiu-se e Madalena também. Não houve nada de conversação. Nada de enrolamento. Deitaram-se na cama e ela já sabia o que fazer. Ela o beijou calorosamente no pescoço, passando a língua rapidamente sobre sua orelha fria e compartilhando algumas palavras sujas. Vagarosamente, foi beijando e lambendo o corpo dele, passando a mão e já percebendo seu pênis duro como rocha. Mas ela queria brincar com ele. Ela sugou tudo que havia ali; pau, bolas, mamilos, dedos. Ele, então, a penetrou devagar, depois passando a ser mais agressivo e encarando os olhos de Madalena e ouvindo seus longos e falsos gemidos. Ela sabia exatamente o que fazer. Sabia como fingir. Sabia o que ele queria. Sabia o que todos os homens queriam. Não durando 6 minutos, o rapaz goza nos lençóis amarelados. Madalena vira de lado e acende um cigarro, encarando pela janela a lua que brilhava tão forte.
— Você ainda tem 46 minutos. O que deseja fazer, ainda? — Disse ela, ainda com os olhos fixos na lua, sem expressão alguma na voz.
— Você quer um pouco? — Disse ele mostrando-a um pacote de cocaína, com uma voz rouca e triste.
Ela vira os olhos para ele e sem pensar muito, aceita.
Cheiravam tudo o que podiam.
— Caralho! Essa porra tá boa. Puta que merda, caralho. — Disse ela, conversando consigo com uma voz bem suspeita.
Conversaram e riram e cheiravam mais. E mais, e mais... Madalena já era viciada há um tempo. Então seu corpo começou a agitar-se. O cara começou a ficar preocupado e perguntou se estava tudo bem mas ela não respondia. Não conseguia. Vomitou algo que restava em seu estômago. Lágrimas emergiam e rolavam sobre seu rosto, borrando toda a maquiagem. Babava como um cachorro. Tomada por uma convulsão, seu corpo vai ao chão, enquanto o cliente se desesperava sempre repetindo, andado em círculos, "Me fodi, me fodi, me fodi..." Ela tremia, e se debatia, e fazia alguns barulhos estranhos, atormentando ainda mais o ambiente. Em um momento de extremo desespero e covardia, na qual nenhum homem poderia ainda prosseguir com a própria vida sem cometer suicídio, ele foge correndo daquele quarto imundo, deixando-a sozinha para morrer.
A convulsão para. O coração para. O tempo para. Seus tristes olhos estão fixos no teto, como se estivessem curtindo um devaneio. Sua pele fria como o vento que a janela deixava passear pelo maldito quarto mal iluminado, do maldito motel barato. Seu corpo imóvel deixado descuidado no duro e sujo chão. As paredes que assistiram essa cena eram esverdeadas de sujeira, e na cama de lençóis amarelados continha o gozo já enrijecido e marcas de um sexo que não continha valor algum. Madalena já não precisava do seu trabalho. Já não precisava do dinheiro. Já não precisava dos xingamentos. Já não precisava das roupas caras, dos cigarros caros e das maquiagens caras. Já não precisava de seu batom vermelho. Já não precisava das ameaças. Já não precisava das humilhações. Não precisava do mundo. Estava sozinha. Madalena, a puta, estava morta. Madalena, a puta, só tinha 17 anos de idade.
Madalena, um sorriso no teu rosto valeria mais que 50 centavos em teu bolso.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário